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Aonde eu nasci

Eu, Espedito Faleiros, nascido em 29 de agosto de 1931, contando o meu passado. Aonde eu nasci é em um lugar chamado “Corgo Santa Maria”. No cartório este nome era “Fazenda Santa Maria”, ou “Região Santa Maria”, e era conhecido lá nos Faleiros. Este lugar é no Município de Cássia, Minas Gerais. Essa região era muito grande, era muito movimentada. Aonde eu nasci era a cabeceira deste córrego. A distância de lá à Cássia era três léguas. Neste local meus pais tinham um sítio de dois alqueires, com bastante água corrente. Tinha monjolo, tinha engenho, fazia rapadura e açúcar. A mamãe fazia farinha de milho e de mandioca. O papai plantou um grande pomar com grande variedade de frutas e também um pouco de café. Era uma fartura ! A casa em que eu nasci era feita de pau-a-pique, amarrada com cipó, barriada com barro de terra e rebocada com estrume de vaca e areia. A pintura era só com cal virgem. Esta casa tinha uma sala grande, um quarto grande, uma cozinha grande e uma despensa pequena

Irmãos

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Amélia e Joaquim, pais de Espedito Pois bem, eu nasci nesta casa e eu era o caçula. O meu irmão mais próximo era mais velho do que eu oito anos, e era uma irmã. O seu nome era Sebastiana. O Euclides era mais velho dez anos, e o Alcino, mais velho doze anos. Esta Sebastiana era considerada caçula, mas o tal do Espedito, temporão, tomou o lugar da Sebastiana. Eu tinha mais um irmão, mais velho de todos, e o seu nome era José, e uma irmã abaixo deste José. Esta irmã era casada e estava no segundo filho. Ela me deu mamá. Ela foi irmã e mãe de leite. A minha mãe contou que ficou muito tempo sem criar e o peito não queria mais funcionar. Mas a minha irmã tinha muito leite e me associei com meu sobrinho. Mas, por sorte, a mamãe revigorou o peito e ainda deu prá mamar até os três anos. No final desta historinha, quando eu me entendi por gente, eu estava no canto da cama de mamãe. Eu já tinha tirado o reboque da parede e estavam só os amarrados de cipó e as ripas. Nesta época existi

Brinquedos&Livros

 Pois bem, eu tive uma infância longa. Eu fui privilegiado em muitas coisas na minha infância. Eu aproveitei a fartura que tinha. Meus pais não colocaram na minha infância coisas de adulto. Eu, por mim mesmo as copiava: as coisas que eu via. Mas o dia era pequeno para mim, de tanta coisa que eu inventava. Fazia os brinquedos do que existia na época. Eu fazia roça, eu plantava, eu fazia a cerquinha, fazia monjolinho e daí por diante. Quando eu estava com dez anos, o papai me colocou numa escola que tinha perto da nossa casa. Esta escola funcionava numa tulha de pôr café e tinha também um terreirão de secar café, que era aonde nós curtíamos o recreio. Nesta escola eu passei a ser amigo do proprietário daquele local. Era uma amizade em que nos considerávamos como irmãos. Mas, o que regulava o tempo da escola eram os livros. Tinha o primeiro livro que valia o primeiro ano, tinha o segundo livro que valia o segundo ano e daí por diante. Tinha o terceiro livro, o quarto livro e, o quinto l

A vida entre a seca e a guerra

Quando eu terminei a minha escola, já estava sentindo muita vergonha da minha casa, de ser muito grosseira, não tinha quarto, tudo muito rústico. Eu e os dois irmãos, nós dormíamos na sala, num catre. De dia, enrolávamos o colchão de palha. O restante do catre servia de banco. A minha irmã dormia no quarto. Mas, nesta época, já casou o Alcino e, depois de uns seis meses, casou a Sebastiana. Ficou eu e o Euclides. Eu tirei os "trens" da despensa e fiz um quarto para mim e o Euclides. Era eu quem comandava a responsabilidade do que tinha que fazer. Nestas alturas, eu já estava com treze anos. Nisto já era 1944. Nesta época começou uma seca que durou três anos. Nós estávamos com quatro anos de Guerra Mundial. Então, misturou seca com guerra. Foi o maior sufoco: era rumor de guerra, tudo seco e queimando. Em 45, a guerra acabou e começou a chover. O papai melhorou de saúde. Nisto eu já tinha os meus catorze anos. Mesmo assim, com todas estas super-lutas, eu ainda arranjei um t

Antonieta

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Antonieta e Espedito Em 1951 eu me casei com Cilica. Seu nome era Antonieta Bastos. Ela, depois de casar, passou a assinar Antonieta Bastos Faleiros. Ela era filha do Francino José Bastos, filho do José Bastos, que tinha o apelido de Zeca Bastos. Este "caiu do céu", pois eu não sei do seu antepassado. A mãe da Cilica era irmã da minha mãe. Ela assinava Maria Rufina Silveira, filha do Antônio Maia Silveira e de sua mulher Maria Rufina Paula. Este tal Antônio Maia também caiu do céu", pois eu não sei do seu antepassado. Voltando ao meu casamento, eu me casei em 28 de junho de 1951. Eu ia completar 20 anos em 29 de agosto do mesmo ano. Nestas alturas, eu já tinha reformado uma casinha que tinha no nosso terreiro de secar café. A casinha era de três cômodos: o quarto era de três metros por dois e meio; a sala era um e meio por três; a cozinha era tipo varanda, de fora a fora, de metro e meio de largura. Na ponta eu fiz

Primeiro filho

Quando fez quatro meses, a Cilica teve uma aborto, sendo preciso um médico para fazer a raspagem, por causa da hemorragia. E fui ás pressas, de cavalo, buscar o Doutor Álvaro, de Cássia. Pois bem, em 52 nós decidimos recuperar as perdas que tivemos. Com a seca que passou, fomos endividando. Não tinha com o que recuperar. Então o papai vendeu a nossa propriedade, aonde eu nasci e casei e mudei dali casado. Nós pegamos a lavoura de café do meu tio José Faleiros que era um pouco prá cima de onde nós morávamos. Era a nascente do "corgo" Santa Maria. Nós pegamos esta lavoura à meia. Nós pagamos o que devíamos e o restante era para sustentar o serviço. A lavoura, na verdade, carregou muito nesse ano, mas deu uma chuva de pedra que derrubou todos os cafés sem granar. Foi um prejuízo! Neste mesmo ano nasceu o meu primeiro filho. Ele nasceu dia 12 de agosto de 1953. De forma que o meu primeiro filho era também samaritano, porque era pertinho de onde eu nasci, que era o "corgo&

Mais filhos e muitas perdas

Eu voltei para o Fidelcino Alves Faleiros, que era pertinho aonde o papai estava. O meu cunhado, marido da Sebastiana, tocava os cafés do meu padrinho Fidelcino, isto tudo no mesmo ano. Eu convidei o papai para ir morar comigo nesta mesma fazenda. Nós ficaríamos todos juntos, porque a Sebastiana já estava lá. Nós arrumamos uma casinha para ele, mas isto durou pouco. Eu só ajudei meu cunhado a terminar a safra de café. Neste ano em que eu estive no Fidelcino, nasceram as nossas filhas gêmeas. Duas mulheres que morrerram durante o parto. Elas foram sepultadas em Capetinga. A Cilica ficou abalada com a morte da sua mãe, bem perto de seu parto. De forma que em um ano morreu minha sogra e também perdemos as nossas filhas gêmeas. Terminando tudo isso, eu fui morar na casinha que eu tinha feito, porque com a morte da minha sogra, a Cilica tinha direito da posse dos bens doados. Pois bem, isto já era 1955. Em 56 nasce Francisca. Neste mesmo período, eu fiz uma casinha no meu terreiro e trouxe

Família

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Espedito com esposa e filhos

Curto tempo no Paraná

Chegando lá, eles já tinham dado as lavouras de café prá outro. Foi mais uma fria. Eu, já muito cansado de sofrer, já não ambientei em trabalhar naquilo que eu sabia. A Sara era muito novinha e estranhou a viagem de dois dias de mudança: pestiou. Não tinha médico que dava cura, não tinha alimento que dava certo. No final de oito meses, no mesmo ano de 62, eu fui ao banco onde restavam uns trocadinhos do dinheiro da casa. Tirei este dinheirinho, e marquei a viagem de volta prá Minas. Eu disse para o dono da casa em que eu morava: "De tardezinha eu vou me embora para onde eu vim". Ele me perguntou: "Você arrumou caminhão?" Eu disse a ele: "Eu não tenho dinheiro para levar a mudança. O dinheiro que eu tenho somente dá para nós viajarmos de segunda classe e sem comer. Mas eu vou fazer umas matula que dá prá ir mais longe". Ele me disse: "Você vai pagar um aluguel para guardar a sua mudança?" Eu respondi a ele: "Não. Você joga ela fora ou dá par

A volta

Viajamos dois dias e uma noite. Chegamos em Cássia, e de imediato eu peguei uma carona em um caminhão que ia para a Fazenda Santa Maria, aonde morava o compadre Antônio Francisco, e, aonde nos recuperamos da nossa viagem. No domingo, eu fui na cidade e lá eu peguei uma casa para fazer. Perto deste local tinha uma tapera do Amélio Bastos. Eu falei com ele se eu poderia morar nesta casa enquanto eu estivesse construindo a outra casa. Ele concordou. Na próxima semana nós já entramos nesta tapera. Ela não tinha água. Eu apanhava água no "corgo" que tinha perto. A nossa mobília era uma lata de dois litros. A nossa roupa de cama era três travesseiros que a Cilica ganhou de sua irmã. A casa era de assoalho. Nós deitávamos no assoalho e cobríamos os meninos com a roupa do corpo. Depois de umas duas semanas, eu tirei um dinheiro do serviço da casa. Eu melhorei mais a situação. Eu respaldei esta casa com um prumo emprestado e esquadro. Mas nisto, já estava com quase dois meses que

Uma grande emoção

Pois bem, neste dia eu estava sentado na porta desta tapera , bem de tardezinha. O Antônio Cassiano chegou de carroça. Ele estava levando mandioca para a cidade. Ele me disse: "Ô Espedito, lá em casa apareceu uma caixa de couro, cheia de ferramentas. Dizem que é a sua. Se você quiser, amanhã eu trago ela prá você." Eu custei a dar a resposta. Eu perdi o fôlego.Mas depois eu disse a ele que, se ele pudesse fazer este favor, eu ficaria muito satisfeito. Ele me disse: "Amanhã bem cedinho eu trago ela. Eu venho com a carroça vazia para levar mais mandioca." No outro dia, eu madruguei para esper ar a caixa de ferramentas. Com o dia amanhecendo, eu recebi a caixa de ferramentas. Primeiro, eu perguntei o quanto ele cobrava. Ele disse que não era nada. Depois, eu perguntei quem é que levou esta caixa na casa dele. Ele me disse que era o Zézinho Bastos. Eu disse a ele que domingo eu iria na casa dele. E eu agradeci a ele e ele foi embora. Eu pus esta caixa no meio da

Os oito filhos

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A cerâmica e mais filhos

Pois bem, eu terminei esta casa, eu tirei leite para este Antônio Cassiano por uns dez dias , mais ou menos. Depois eu arrumei uma casa com o Osório, aonde era o "corgo" Santa Maria, no mesmo "corgo" que eu nasci, chamado Fazenda Santa Maria. Só que era mais embaixo, chamado Macaúba. Era beirando uma estrada principal. Em 13 de julho de 1963 nasceu o Jonatan. Em 64 me mudei outra vez para Cássia, no mesmo lugar que eu tinha morado, só que era outra casa, que eu tinha alugado. Nesta casa nasceu a Silvana, no dia 16 de agosto de 1965. Depois, eu morei beirando um corredor. Um ano depois, voltei para a mesma casa, onde nasceu a Isabel, no dia 29 de setembro de 1967. Lá eu comecei uma cerâmica, no quintal. Neste mesmo ano, o Calixto Ferreira Borges me convidou para uma sociedade. Ele disse que tinha o barro e um barracão. Eu montei esta cerâmica e registramos com o nome de Cerâmica Pavão. Mas em 68 ele me tirou de lá, prá colocar outras pessoas de Jaboticabal. Eu vendi

Casa na roça

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A caçula e um casal de tios

E nisso, eu, com todos os filhos na escola, desde jardim de infância até ginásio, todo mundo estudando, papel daqui, calçado prá lá e uniforme prá cá. Eu comecei a fazer orçamento de financiamento, que era feito no Banco do Brasil. O Banco me indicava para construir. Se eu não pudesse construir, pelo menos o orçamento eu tinha que fazer. Era sede para morar e barracão de gado de leite, chamado estábulo, com toda a instalação de água e cocheira com corrente ou canzil, tronco de vacinar gado, embarcadouro e tudo o mais. Isto me levou a fazer canteiro de obras. Em 10 de novembro de 1972, nasceu a Luciana. Esta nasceu com deficiência mental e com ligeira deformidade nos ossos. Já desde novinha, fazendo tratamento nas clínicas em Ribeirão Preto. E eu, mil por hora nas construções. De repente entra um casal de velhos também na minha vida. Este casal não tinha filhos. Eles residiam na dita Fazenda Santa Maria. Eram proprietários do lugar mais antigo da região, aonde morou um Faleiros que sem

Júlia e Hildebrando

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Inventário

Pois  bem, aí está contado o espaço de tempo, mas eu volto a contar o que passou neste período de 75 a 81. Veja bem, primeiro eu modifiquei a casa em que eu morava. Aumentei ela. Depois, eu abri o muro da frente para que coubesse um caminhão. Eu comprei este caminhão "três quartos", para pau-de-arara. Eu já tinha um Fusca 71, que eu guiava sem carteira. Depois, tirei carteira em Patrocício Paulista.  Pois bem, neste mesmo período, morre o Hildebrando. Nesta luta, logo morre a Júlia, com diferença de ano e meio. Eu fui escolhido pelo Juiz da Comarca de Cássia, como inventariante da Júlia para os seus herdeiros, que era um testamento mais novo, porque alguém já tinha feito o testamento, mas só para si mesmo. De forma que, no final, o que era válido era o mais novo, que estava com mais herdeiros. Eu era sobrinho, mas tinha dois irmãos. De forma que tinha herdeiro primeiro, segundo, terceiro e daí por diante. Eu tive que mastigar tudo isso, mandar procurador bem documentado para

Fim do inventáro e melhorias na fazenda

Pois bem, este arrendamento não significava nada na despesa que estava ocorrendo. Eu, muito ocupado com a fazenda que estava tocando, nunca gostei de viver com dívidas. Muitas vezes eu intentei vender do jeito que estava, em inventário, para o comprador arcar com todas as despesas, mas eu não achei comprador. Eu resolvi picar em sítio. Consegui vender dois sítios, para eles me ajudarem nas despesas. Inclusive, eu vendi sete alqueires para o Hélio, dono do cartório, que fazia todo o serviço do inventário. Depois eu aluguei o restante para ele, dando a sede para ele por o retireiro. Isto foi mais um ano. Na fritada dos ovos, sobrou cinco alqueires em redor da sede. Eu paguei o que tinha comprado e fiquei livre da dívida. Eu vou voltar um pouco. Quando ocorreu esta compra dos herdeiros, eu já estava numa casa grande, mais para o lado da praça. Nisto, eu já tinha vendido a minha casinha famosa e cheia de história e mais outras coisas que ocorreram neste período que a gente não consegue esc

Uma pintura de Espedito Faleiros

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Insatisfeito e angustiado.

Do meu lado, eu já estava formando dois filhos: uma filha enfermeira-padrão e um outro, farmacêutico-bioquímico. Pois bem, a luta foi tão grande que, quando eu entrei nesta fazenda, eu não gostava de bebida com álcool. Quando eu saí, eu já estava enrolado com o álcool. Antes de aparecer o fracasso, eu já tinha entregado esta fazenda. Eu mudei para o sítio e, neste período, a família mudou para Franca, sem a minha vontade. Eu tinha liquidado as minhas dívidas, mas depois, eu tive mais despesas com agrimensor, de cerca, de registro, e tantas coisas mais. Eu formei outras dívidas, inclusive um restinho que eu devia para minha irmã. Nesta época em que a família já estava em Franca, fiquei com uma casa muito boa, grande, reformadinha, o sítio e um fusca muito bom. Mas eu devia. Portanto, eu fiquei enrolado entre Cássia e Franca, e a casa de Cássia, e o sítio, e a dívida, e o alcoolismo, e insatisfeito e angustiado. E comecei a fundar o caminho de Franca á Cássia e o sítio. Logo, eu vendi a

Tratamento em Ribeirão Preto

Mais uma vez consegui vencer os negócios enrolados, mas o alcoolismo, eu não pude com ele. Ele estava me triturando, tudo parecia um gigante na minha vida. A minha filha já estava, nesta época, trabalhando na clínica de Ribeirão Preto. Um médico que trabalhava lá, disse que tirava o alcoolismo  com um tipo de tratamento, internado num apartamento fechado e com um regime de ficar sem comer quarenta dias, comendo apenas umas coisinhas pesadas na balança, questão de gramas. E não deixou espelho, para eu não ver o meu rosto. Eu não sabia, eu fui secando de fraco. Eu, no meio de um ar contaminado, peguei uma pneumonia aguda. Eles fizeram uma broncoscopia, com anestesia geral. Eles me disseram que eu estava tuberculoso, e eu ia fazer o tratamento contra a tuberculose, mas que eu poderia ir em casa e depois retornar. Mas foi diferente. Eu fui para o meu sítio e comecei a comer uns ramos que tinha lá em redor. 

E lá se vai o sítio

Fiz um financiamento no banco, organizei os vizinhos e fizemos compra em conjunto. Aramos tudo por etapa, e depois de plantado eu ia tocar as roças na enxada, eu mesmo. E assim foi. Eu formei uma belíssima roça de milho. Eu não fui me tratar é coisa nenhuma. Eu dei uma "banana" para este médico. Pois bem, eu passei mais ou menos uns quatro meses sem beber, mas eu achei que estava curado e provei um copo de cerveja. Começou tudo de novo. Eu continuei na estrada do sítio e Franca, isto, de quatro a cinco anos, mais ou menos, para ficar livre de estar andando, mas o ministro da Fazenda, Delfim Neto, deu um fim na economia do Brasil, porque ele levou a poupança lá prá cima e ninguém queria nada, nem comprar, nem alugar. Isto foi toda vida. Nisto, eu não podia cuidar de nada, mas despesa de imposto e coisa aqui e ali vai formando dívida e, antes que o mal cresça, corta a cabeça. Pois bem, nesta época, se eu ficasse no espeto, ficava assando, e se eu saísse do espeto, caía na brasa

Saindo da garra do monstro

Eu fui dar o fim deste álcool em 88, mas eu tenho toda a certeza que não foi propriamente eu, mas é que chegou o fim de alguma prova. De todo o jeito, o resumo é este: foi Deus. Deste espaço, de 84 a 88, eu não vou escrever o acontecido, porque não edifica. É só bobeira e sofrimento, sem história. Mas em 88, quando eu saí da garra deste monstro, eu fui respirar bem fundo, e ver e sentir que dentro de mim estava o Espedito. "Ainda ele está aqui", eu pensei, "será que sou eu mesmo?" De imediato peguei uma marcenaria da entidade Samaritana. Um barracão grande. Na verdade, eu nunca trabalhei assim, com tanta máquina. Ainda não sabia manejar elas, mas comecei e fui fazer uma mesa. E fiz a mesa. Depois da mesa pronta, eu fui raciocinar. Eu disse: "Puxa, se eu fiz esta mesa é porque eu sabia. Então eu sou o mesmo Espedito, que faz tudo o que toca para fazer, e tudo o que eu aprendi a fazer esta inteirinho dentro de mim". As experiências de vida estavam tudo na me

Alegria

Pois bem, fui andando a pé de casa para a marcenaria, sem pressa, muito feliz, como uma criança, satisfeito da vida que Deus me preservou. Eu toquei esta marcenaria por dois anos. Depois eu fiz uma cobertura no fundo do quintal e eu mesmo fiz as máquinas, e formei um jeito de trabalhar. Fui ampliando cada vez mais. Estou até a data presente de 2001, nesta casa que estou morando. Isto me parece que foi em 87, no mesmo ano que nasceu meu quarto neto, Leandro. Voltando ao meu assunto, me parece que em 94 foi vendida uma casa no Paraíso. Eu fui ver o seu preço. Estava no mesmo preço de quando compramos a nossa, já com 8 anos, só dando despesa, nenhum aluguel sendo pago. Aí vendemos, mas á prestação, com preço "micharia", que nós não vimos o dinheiro acabar. Eu achei foi muito bom, porque com isso o alcoolismo-monstro chegou ao fim.

Muitas marcas

Pois bem, aqui estou tocando a vida. O único que sobrou desta história, fui eu mesmo. Eu não consigo escrever tudo, cada martírio da vida, cada casa que eu fiz, cada barracão, cada curral, quantas bacias eu pus fundo, quantas lamparinas eu fiz, eu não sei quantas moringas, potes e vasos eu fiz, quantas peças de madeira eu fiz, sendo que muitas delas ainda existem. E hortaliça, lavoura, pomar... Enfim, por onde eu passei, eu deixei marca de coisas que eu fiz, e deixei história na memória de gente que me conheceu. Mesmo recentemente, eu fiz duas casas. De dois anos prá cá, eu estou fazendo o que eu nunca fiz: escrever numa máquina de escrever. Eu comecei a escrever a mão, depois eu arrumei uma máquina mecânica. Como eu não tenho datilografia, eu não me importo, eu escrevo do jeito que eu quero. Não é o meu objetivo a técnica de escrever, mas é eu conseguir me expressar, é comunicar o meu conhecimento. Outra coisa que não é o meu objetivo é aprender a escrever corretamente. Por quê? Eu se

Antepassados

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                            Antônio Maia da Silveira, avô materno de Espedito Eu estava com vontade de saber dos meus antepassados, mas eu desisti, porque eu fui pensar no pai da minha mãe, o Antônio Maia da Silveira, e eu não tenho notícia de quem era o seu pai, e nem de onde veio. Então eu disse: "Este caiu do céu". A mesma coisa o vô da Cilica, José de Bastos, este também "caiu do céu". Para me aprofundar mais, eu teria que envolver o resto da minha vida e teria que gastar muito.  Mas eu faço aquilo que eu sei, e passo para a família, pelo menos da minha existência para a frente, incluindo ainda alguns dos mais antigos. Eu descobri que esta geração Faleiros é patronada no Brasil. Os que vieram como imigrantes, tinham que trabalhar nas fazendas, com um certo contrato. Me parece que tinha um código, uma lei, naquela época, de patrono. Seria uma ética respeitada. Me parece que este patronado tirava um documento com o governo, de comprar um título de terra, que era

O Faleiros que caiu do céu.

Meu trisavô do lado materno, das minhas avós, era um Faleiros que "caiu do céu", quando ele veio prá região. Aonde eu nasci, que era conhecido como "os Faleiros", os meus pais diziam muita coisa deste Faleiros, porque eu perguntava demais. Eles diziam que quando este Faleiros veio, era tudo mata virgem. Não tinha caminho. Ele é que abriu uma picada dentro da mata, e foi andando até achar um "corgo", que hoje é conhecido como "Santa Maria". Isto que ele marcou, era mais ou menos uns 20 quilômetros quadrados, que significa, de perto de Capetinga até perto de Cássia. Isto prova, porque tinha e tem uma sede á três quilômetros de distância de Cássia, e, tinha outra na mesma distância de Capetinga. Estas sedes eram dos filhos deste Faleiros, e a maioria delas está em boas condições. E parece que são dez casas que servem de prova de muita coisa. A história contada pelos nossos pais, é que estas terras foram tomadas por posse direto do governo. Eram adqu

Antepassados do lado paterno.

Agora eu vou falar dos meus antepassados do lado paterno, que também eram Faleiros. Estes Faleiros, eles eram muito difíceis de se casarem, a não ser com membros da família. O meu bisavô, eu não sei de onde ele veio, se era português ou espanhol. Uma pessoa bem conhecedora de idioma me disse que este nome "Faleiros" indica espanhol, mas escrito com "x" no final e não "s": "Faleirox". De forma que este bisavô também caiu do céu . Este patrono, José Justino Faleiros, era de Patrocínio Paulista. Como eu não tenho documento nenhum, eu fui fazendo a conta por mim mesmo, das datas que eu conheço, e também das datas do papai. Eu fui descobrindo a época de cada um, e deu certo, pelas datas das cidades como Franca e Cássia.  Coisa interessante é um raciocínio. Eu descobri que o meu avô casou na mesma idade em que eu casei, por três pistas: uma é eu me lembrar que o papai era o segundo filho, a sua irmã era mais velha um ano e nove meses; a outra pista é

Quatro gerações

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De forma que, começando com este que caiu do céu, que é o patrono José Justino Faleiros, da época do seu nascimento em 1800, calculo seu filho Francisco Justino Faleiros, nascido em 1830 e, calculo  o neto José Justino Faleiros, nascido em 1863, e o bisneto Joaquim Faleiros Sobrinho nascido dia 20 de maio de 1885 e o trineto Espedito Faleiros, nascido em 29 de agosto de 1931.                                         Francisco Justino Faleiros                                    José Justino Faleiros e Ciana                                         Joaquim Faleiros Sobrinho

A história profissional de Espedito Faleiros(1)

Eu comecei na lida de café. Conheço a fundo como produzir café, conheço secagem e o ponto de beneficiar o café. Conheço torragem e também sei o que é bom ou não na bebida café. Conheço também o movimento de engenho de moer cana, fazer rapadura e açúcar de forma. Também faço monjolo e sei torrar a farinha de milho. Sei o cultivo de qualquer tipo de lavoura e a maneira de preparar para armazenagem. Conheço qualidade de terra, se é produtiva ou não. Entendo de garimpo de diamante, conheço o cascalho que pode dar diamante. Sei trabalhar em gupiara e manchão.  Já medi terra, sei correr rumo de divisa, sei escolher lugar apropriado para sede ou moradia. Enfim, de todo o movimento que existe no campo, eu já trabalhei.  De hortaliça sou um fanático e muito abençoado em tudo o que já plantei.