A vida entre a seca e a guerra

Quando eu terminei a minha escola, já estava sentindo muita vergonha da minha casa, de ser muito grosseira, não tinha quarto, tudo muito rústico. Eu e os dois irmãos, nós dormíamos na sala, num catre. De dia, enrolávamos o colchão de palha. O restante do catre servia de banco. A minha irmã dormia no quarto. Mas, nesta época, já casou o Alcino e, depois de uns seis meses, casou a Sebastiana. Ficou eu e o Euclides. Eu tirei os "trens" da despensa e fiz um quarto para mim e o Euclides.
Era eu quem comandava a responsabilidade do que tinha que fazer. Nestas alturas, eu já estava com treze anos. Nisto já era 1944.
Nesta época começou uma seca que durou três anos. Nós estávamos com quatro anos de Guerra Mundial. Então, misturou seca com guerra. Foi o maior sufoco: era rumor de guerra, tudo seco e queimando.
Em 45, a guerra acabou e começou a chover. O papai melhorou de saúde. Nisto eu já tinha os meus catorze anos. Mesmo assim, com todas estas super-lutas, eu ainda arranjei um tempo para me distrair com o meu amigo de escola. Nós éramos como irmãos. A nossa maneira de distrair era caçar, pescar, nadar e fazer o papel de índio no mato. eu fazia as tangas, o penacho e as armas: flecha e bodoque. Isto era no domingo. E eu incentivei o meu companheiro a praticar esportes. Como eu trabalhava muito, eu falava para ele fazer os exercícios porque ele não trabalhava.
Como nós atravessamos uma crise de seca, nós ficamos sem renda, porque a seca acabou com nossas rendas, acabou com o café, acabou o pomar e também fracassou a cana. Não tinhamos mantimento, pois era muito pouco o que tinha porque a terra enfranqueceu. E nós fomos ficando cada vez mais apertados. Assim tocamos a vida.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Antonieta