Curto tempo no Paraná

Chegando lá, eles já tinham dado as lavouras de café prá outro. Foi mais uma fria. Eu, já muito cansado de sofrer, já não ambientei em trabalhar naquilo que eu sabia. A Sara era muito novinha e estranhou a viagem de dois dias de mudança: pestiou. Não tinha médico que dava cura, não tinha alimento que dava certo.
No final de oito meses, no mesmo ano de 62, eu fui ao banco onde restavam uns trocadinhos do dinheiro da casa. Tirei este dinheirinho, e marquei a viagem de volta prá Minas. Eu disse para o dono da casa em que eu morava: "De tardezinha eu vou me embora para onde eu vim". Ele me perguntou: "Você arrumou caminhão?" Eu disse a ele: "Eu não tenho dinheiro para levar a mudança. O dinheiro que eu tenho somente dá para nós viajarmos de segunda classe e sem comer. Mas eu vou fazer umas matula que dá prá ir mais longe". Ele me disse: "Você vai pagar um aluguel para guardar a sua mudança?" Eu respondi a ele: "Não. Você joga ela fora ou dá para outro pobre igual eu."
Pois bem, eu fui na rodoviária e comprei as passagens para ás cinco da manhã do dia seguinte. Á noite eu juntei todas as ferramentas que eu tinha.
Eu tinha uma caixa coberta de couro crú, que foi dos meus antepassados, e muitas das ferramentas também foi dos meus antepassados. Eu coloquei estas ferramentas na caixa e amarrei com arame. Eu ajoelhei beirando esta caixa, debrucei em cima dela e entreguei nas mãos de Deus. Eu pedi a ele que, aonde eu estivesse, o Senhor encaminharia esta caixa de ferramentas, porque os seus cabos estavam pretos do suor das minhas mãos. E eu esqueci do resto, não me importando com as outras coisas.
No outro dia, embarcamos cedo, com quatro filhos e umas malas de roupa.

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