Cortando cabelo

Mas parecia que tinha uma coisa me dizendo que aquela vida que estávamos levando estava curta, que ia acontecer coisa de grande sofrimento.
Pois bem, eu olhando nos meus papéis guardados, achei um livrinho de Francisco de Assis. Eu dei uma lida neste livrinho e me pareceu algo de intimidade nele. Ele falava da Bíblia Sagrada e eu fiquei na esperança de um dia encontrar esta Bíblia.
Em breve eu fui em Cássia para cortar cabelo. Chegando no barbeiro, amarrei o cavalo na cerca da horta. O barbeiro era meu parente, chamado José Faleiros. Cortando cabelo, conversa vai, conversa vem, pelo espelho, eu vi um livro em cima de uma mesinha. Um livro da capa preta. Eu perguntei: “Ô, Zé, que livro é aquele?” Ele disse: “É a Bíblia Sagrada.”  Eu fiquei meio mudo. Ele me disse: “Quer me comprar ele? Eu já li ele e não entendi nada. Quero vender pelo mesmo preço que comprei.” Eu disse para ele: “Quanto é?” Era um negócio de “cem”, mas eu não me lembro que “cem” era  este. Eu sei que era cruzeiro naquela época. E eu fiquei com a Bíblia. 
Acertei o corte de cabelo e a Bíblia , despedi, montei no cavalo e fui embora. Mesmo no caminho, de vez em quando, eu dava uma lidinha nela. Deste dia em diante, eu trabalhava esforçado, parava mais cedo, lavava as mãos e ia estudar esta tal de Bíblia. Eu achei muito interessante. Eu entrava noite a dentro lendo com luz de lamparina que me enfumaçava a testa e me fazia sujar o travesseiro. De forma que, quando eu acabava de ler, eu lavava o rosto.

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